segunda-feira, 22 de julho de 2013

[música legendada] The 18th Letter (Rakim)


A 18ª letra do alfabeto é a letra R, R de Rakim, esse gênio do rap. É difícil compreender o tamanho da importância deste MC para o hip-hop, justamente pela imensidão dela. Em nível de revolução formal ele estaria para o rap como estariam para a poesia Walt Whitman ou Mallarmé. Em nível de importância artística, um Goethe talvez. Rakim é nada menos que o pai, ou o padrinho, do flow - essa palavrinha mágica que diz quase tudo do que é um MC.

Sua influência é tão gigante que fisgou até mesmos os rappers que lhe precederam. Ice-T, precursor (ou fundador) do gangsta rap, é um deles: numa cena do documentário Something for nothing: the art of rap, ele admite que Rakim abriu uma verdadeira caixa de pandora do rap; que os rappers falavam coisas como "eu estou no carro", "eu andei na rua", "eu levei um tiro" e Rakim vinha com "eu te levo para um passeio no inferno, alimento sua mente e vejo seu olho arregalar/ te guio pra fora do estado triplo da escuridão", causando um impacto lírico paralelo ao que Bob Dylan proporcionou à música pop, incluídos aqui os Beatles. A explicação de Rakim é fascinante: se nas músicas instrumentais de jazz os artífices desse estilo conseguiam fazer o ouvinte "ver o que estava acontecendo" e colocá-lo num determinado estado de humor, ele precisava conseguir fazer isso com palavras também.

O Paid in full, lançado em 1987 com o DJ Eric B., trouxe várias novidades: a primeira dupla MC/DJ por excelência; a lírica, é claro, suntuosa de Rakim; os samplers heterogêneos de Eric B., os remixes de funks clássicos, a vivacidade dos scratchs... é incalculável. Tudo isso, diga-se de passagem, gravado em uma semana. Coisa de gênio.


A dupla acabou no começo da década de 90, e Rakim só viria a lançar seu álbum solo em 1997, cuja canção traduzida abaixo, a segunda faixa do disco, também lhe confere o título. Porém, Rakim saiu dos holofotes, coisa que nunca conseguirei entender. Pior: em sua carreira solo, nem chegou a entrar, a não ser no iniciozinho. Mistérios da indústria fonográfica. Afinal, os dois maiores rappers na ativa hoje são filhos legitimicíssimos de Rakim: Nas e Eminem.

A tradução da letra abaixo tentou seguir o estilo literal, embora tenha sido quase irresistível implantar uma tradução livre, ou seja, transpor a mesma métrica, rítmica e lírica. Como eu não sou um Rakim da vida, esse caminho demoraria meses certamente. Devo uma parte da tradução a um trecho que já estava disponível no mesmo documentário citado acima. Varri essa internet atrás do autor - pois o video no youtube foi excluído - e não encontrei. O Dandan Chaparral me informou que o Nathan NTN havia pedido permissão a alguém para postar o vídeo, mas não sabia se esse alguém é quem tinha traduzido. Caso a anônima pessoa se depare um dia com este blog, por favor, aceite esta humilde creditação ao seu trabalho.

Essa música é uma boa pedida pra quem não é muito fã de rap ou não tem muita afinidade com a prosódia inglesa. Vale uma pena dar uma conferida na letra original aqui. Façam o teste: assistam o vídeo e tentem acompanhar a legenda. Acho que vocês não conseguiram de primeira, pois serão completamente hipnotizados por esse flow mefistotélico. Talvez consigam, na melhor das hipóteses, acompanhar a tradução na segunda audiência - e olhe lá.


GLOSSÁRIO
* "O Flower" = do termo "flow", que, no rap, significa algo como "levada", isto é, a habilidade do rapper em lançar suas rimas na batida. Quando Rakim se autodenonima o "flower", ele está querendo dizer que ele é o cara do flow por excelência (o que não deixa de ser verdade).

Imagem de fundo aqui.

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