Obcecado por proparoxítonas e por termos científicos, Immortal Technique (nome artístico do nova-iorquino, nascido no Peru, Felipe Andres Coronel) é um rapper sem concessões. Sua agressividade não é exatamente crua como aquela típica do gangsta rap; ela é arquitetada de modo a causar mais impacto pela frase do que pelo parágrafo. Tech gosta de descerrar seu flow através de duas formas principais: 1) metáforas com diversas (e inusitadas) áreas de conhecimento (física, química, ocultismo, astronomia) 2) imagens de um inusitado absurdo, na "vibe" Slim Shady/Marshall Mathers, que chocam pela morbidez (exemplo: "molestadores de criancinhas com AIDS não são mais doentios do que eu"). O fato é que, de uma forma ou de outra, Tech busca o inusitado.
Esse inusitado, porém, somente o é em relação ao próprio senso comum do rap. E a proposta é justamente torná-lo visível, palpável, chamar a atenção para sua mensagem, como legítimo ativista político que é este rapper. Em suas músicas, há uma eterna sensação de que vivemos num lugar sitiado e de que não há tempo a perder. Se se comparasse a história do rap à história da filosofia (seria Rakim um Aristóteles? Tupac um Nietzsche, talvez, pelo status pop de ambos; Ice Cube um Schopenhauer com certeza), Immortal T. seria um contemporâneo de Marx, pois o mesmo acreditava que a filosofia já tinha pensado a vida demais, e deveria-se agora tentar mudá-la - preferencialmente, através de uma revolução.
Revolutionary vol. 1 é o nome do álbum no qual consta a música traduzida desse post. Tech é avesso às gravadoras, e para ele a vida é uma guerra - sua voz parece rasgar a garganta (seu correspondente no Brasil seria MC Marechal?). E, afinal, qual o primeiro passo para batalhar numa guerra? Tech responde: reconhecer-se como um indivíduo auto-suficiente, capaz, disposto a sacrifícios, não pela filosofia suicida do "não ter nada a perder", mas pela crença de que, como ele afirma na música abaixo, o "mais importante é o que você está disposto a construir / o que você está disposto a passar pras suas crianças / o que você está disposto a criar".
OBS: "Visitas conjugais" são as visitas que as esposas fazem aos maridos presos e que são monitoradas em vídeos, para evitar que sejam repassadas drogas, armas e afins. O rapper se diz "explícito" porque, nessas "visitas", os casais costumam fazer sexo, ainda que estejam sendo filmados.
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